Comentei num post anterior (Mizutani – aparecendo pela primeira vez) que falaria um pouco mais sobre como desenhei os olhos do personagem na imagem abaixo:
Pode não parecer, mas fazer este pequeno desenho teve diversos passos e o uso de mais de uma técnica diferente. Como infelizmente não fotografei quando devia, vou repetir o processo (meio às pressas) para falar com mais calma de cada uma das técnicas e o porque de usar cada coisa.
Passo 1) planejamento – vocês não imaginam quanto repassei essas páginas na minha cabeça. Como não tenho tempo para desenhar, pensei no assunto meu bocadinho de tempo. É a cena em que os personagens principais se encontram pela primeira vez, então é necessário mostrar algum impacto. É importante a apresentação do galã, afinal tudo começa com uma boa primeira impressão, certo? Tudo isso para dizer que esses olhos precisam passar isso: que este olhar é importante, que algo está acontecendo.
Os olhos são o foco, porque a ação de olhar/notar é o importante da cena. Existe branco acima da iris para demonstrar surpresa, mas nada exagerado, porque penso que o personagem é discreto na demonstração de suas emoções.
Passo 2) esboço e desenho em grafite – como em qualquer estória em quadrinhos. Pessoalmente tenho gostado de usar grafite azul e depois fazer os tracos final com grafite normal.
Passo 3) nanquim – os olhos, que eu queria que tivessem mais destaque, foram feitos com pincel. O pincel permite um traço mais espesso, mais bonito e menos trabalhoso que a pena. Fora que é uma delícia trabalhar com o pincel, ainda que exija um treino extra. Já o cabelo foi feito com pena fina e sem muita modulação do traço, justamente porque não queria tirar a atenção dos olhos. Os traços finos no interior da iris foram feitos com pena também.
Deixe secar de um dia para o outro antes de apagar todo o lápis.
Passo 4) máscara – no original, cortei um papel sulfite, deixando vazada apenas a região do cabelo, antes de começar a pintar. No exemplo, usei fita crepe para pintura da casa, pois tem menos cola que a fita crepe original e onde moro dá para achar em lojas de 1,99. Contudo, apesar de dar mais trabalho, use o papel sempre que possível porque assim não tem risco de arrancar um pedaço do seu desenho quando for tirar a fita.
Passo 5) pintura com esponja e carimbo – já comentei num post anterior (Esponja no cabelo) sobre este truque, além de usá-lo amplamente para fazer a capa do primeiro capítulo. No exemplo atual, como estava sem esponja e sem tinta de carimbo, usei um pano seco e tinta nanquim mesmo. Ficou um pouco diferente do original, mas o conceito é o mesmo: carimbe várias vezes para ficar na cor que quer, sugiro que fique mais escuro onde tem detalhes e perto de onde quer dar ênfase.
Passo 6) screentone – ainda não estava do jeito que eu queria, faltava impacto. Eu já sabia que a ideia de movimento ou ação em histórias em quadrinhos pode ser passada com grandes distorções, seja no enquadramento, seja no próprio desenho, seja nas pontos de vista utilizados (obrigada Quanta e Prof. Barata!). Foi assim que tive a ideia de usar o screentone na diagonal. Aproveitei para focar ainda mais o olhar, deixando branca a parte em que estão os olhos.
Passo 7) branco – como me dava uma impressão de um pouco sem graça a imagem e eu queria passar uma sensação positiva, resolvi apelar para as gotas brancas. São muito simples de fazer com guache branco; é só dar uns petelecos no pincel, espirrando a tinta no desenho. As gotículas simulam um pouco a ideia de brilho.
Pronto, finalmente saiu!
Espera que seja útil. Um grande abraço!