Olhos do Mizutani

Comentei num post anterior (Mizutani – aparecendo pela primeira vez) que falaria um pouco mais sobre como desenhei os olhos do personagem na imagem abaixo:

Usei pincel para fazer a arte final destes olhos. Uhu!

Pode não parecer, mas fazer este pequeno desenho teve diversos passos e o uso de mais de uma técnica diferente. Como infelizmente não fotografei quando devia, vou repetir o processo (meio às pressas) para falar com mais calma de cada uma das técnicas e o porque de usar cada coisa.

Passo 1) planejamento – vocês não imaginam quanto repassei essas páginas na minha cabeça. Como não tenho tempo para desenhar, pensei no assunto meu bocadinho de tempo. É a cena em que os personagens principais se encontram pela primeira vez, então é necessário mostrar algum impacto. É importante a apresentação do galã, afinal tudo começa com uma boa primeira impressão, certo? Tudo isso para dizer que esses olhos precisam passar isso: que este olhar é importante, que algo está acontecendo.

Os olhos são o foco, porque a ação de olhar/notar é o importante da cena. Existe branco acima da iris para demonstrar surpresa, mas nada exagerado, porque penso que o personagem é discreto na demonstração de suas emoções.

Passo 2) esboço e desenho em grafite – como em qualquer estória em quadrinhos. Pessoalmente tenho gostado de usar grafite azul e depois fazer os tracos final com grafite normal.

mizu-olhos01

está amarelado, porque onde eu desenho está muito mal iluminado. Além disso estou sem scanner ainda 😛 Mas eu estava morrendo de saudades do blog, por conta dos leitores. O melhor do blog é o feedback de vocês!

Passo 3) nanquim – os olhos, que eu queria que tivessem mais destaque, foram feitos com pincel. O pincel permite um traço mais espesso, mais bonito e menos trabalhoso que a pena. Fora que é uma delícia trabalhar com o pincel, ainda que exija um treino extra. Já o cabelo foi feito com pena fina e sem muita modulação do traço, justamente porque não queria tirar a atenção dos olhos. Os traços finos no interior da iris foram feitos com pena também.

mizu-olhos-nanquim

usei o nanquim que tinha em casa

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Screen Shot 2014-09-21 at 10.20.13 AM

Tudo acima feito com pincel;

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os detalhes (iris, cabelo, retoques) feitos com pena fina

Deixe secar de um dia para o outro antes de apagar todo o lápis.

Passo 4) máscara – no original, cortei um papel sulfite, deixando vazada apenas a região do cabelo, antes de começar a pintar. No exemplo, usei fita crepe para pintura da casa, pois tem menos cola que a fita crepe original e onde moro dá para achar em lojas de 1,99. Contudo, apesar de dar mais trabalho, use o papel sempre que possível porque assim não tem risco de arrancar um pedaço do seu desenho quando for tirar a fita.

cubra tudo sem dó, depois corte as linhas com estilete

cubra tudo sem dó, depois corte as linhas com estilete

tire a fita dos lugares em que quer pintar

tire a fita dos lugares em que quer pintar

Passo 5) pintura com esponja e carimbo – já comentei num post anterior (Esponja no cabelo) sobre este truque, além de usá-lo amplamente para fazer a capa do primeiro capítulo. No exemplo atual, como estava sem esponja e sem tinta de carimbo, usei um pano seco e tinta nanquim mesmo. Ficou um pouco diferente do original, mas o conceito é o mesmo: carimbe várias vezes para ficar na cor que quer, sugiro que fique mais escuro onde tem detalhes e perto de onde quer dar ênfase.

pano velho e nanquim

pano velho e nanquim

mizu-olhos-masc4

coloque máscara (papel ou fita crepe) também nas bordas do quadrinho. Você não quer carimbar o resto da sua página! – sei que não tem aqui, é o problema de fazer às pressas

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carimbe mais vezes onde quer deixar mais escuro

mizu-olhos-masc-fim

tire a fita com muito cuidado ou vai arrancar pedaços do seu desenho e daí não tem muito concerto. O papel, uma vez danificado, muda suas propriedades, geralmente ficando mais absovente.

Passo 6) screentone – ainda não estava do jeito que eu queria, faltava impacto. Eu já sabia que a ideia de movimento ou ação em histórias em quadrinhos pode ser passada com grandes distorções, seja no enquadramento, seja no próprio desenho, seja nas pontos de vista utilizados (obrigada Quanta e Prof. Barata!). Foi assim que tive a ideia de usar o screentone na diagonal. Aproveitei para focar ainda mais o olhar, deixando branca a parte em que estão os olhos.

Screen Shot 2014-09-21 at 10.23.23 AM

reaproveitando uma antiga folha de screentone cinza. Ela é muito escura, mas era o que eu tinha em mãos 😛

Screen Shot 2014-09-21 at 10.23.53 AM

cortei dois triângulos

Screen Shot 2014-09-21 at 10.24.12 AM

colei o primeiro triângulo

Screen Shot 2014-09-21 at 10.24.29 AM

fim do screentone

Passo 7) branco – como me dava uma impressão de um pouco sem graça a imagem e eu queria passar uma sensação positiva, resolvi apelar para as gotas brancas. São muito simples de fazer com guache branco; é só dar uns petelecos no pincel, espirrando a tinta no desenho. As gotículas simulam um pouco a ideia de brilho.

Screen Shot 2014-09-21 at 10.24.47 AM

Screen Shot 2014-09-21 at 10.25.07 AM

cuidado com os arredores. Vai tinta para todo o lado. Quando mais perto do papel, mais controle você tem sobre as gotículas.

Pronto, finalmente saiu!

Screen Shot 2014-09-21 at 10.58.20 AM

Espera que seja útil. Um grande abraço!

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