Ellie de kimono

As páginas 3 e 4 estão quase prontas, mas esse “quase” parece eterno!

Enquanto não ficam prontas, quero falar um pouco de um dos desenhos da página 4 que gostei muito de fazer e achei que ficou bonitinho: a Ellie de kimono.

Para desenhar o kimono, fiz alguns traços gerais de cabeça, depois consultei o Kuragehime para observar mais detalhes (se alguém leu o mangá, lembrará na NEET que ama kimonos!). Achei que ficou bonitinho. Trata-se da composição de diversas peças; perceba que na gola existem três tecidos diferentes, na manga tem mais um, na cintura, dois tecidos e fitas. Como mencionei, usei um modelo, sei que kimonos possuem muitas camadas, vi alguns ao vivo e a cores (no casamento de uma amiga e no bairro da Liberdade), tudo isso ajudou para passar a sensação que eu queria com o kimono.

Sobre as longas mangas, eu queria que o kimono lembrasse um pouco o das deusas chinesas de filmes, em que um tecido branco longo parte da manga. Sempre achei esses detalhes belíssimos, principalmente quando combinados com as mechas de cabelo esvoaçantes. Mas digresso, voltemos ao kimono!

Utilizei três screentones diferentes. Procurei um especialmente para a parte mais exposta do kimono e achei lindo esse padrão de bambu do blog da bakenekogirl. Fiz a raspagem nas bordas do tecido, para evidenciar os traços de nanquim e para deixar a separação entre manga-corpo-manga mais clara.

No tecido do pescoço, aproveitei um teco do screentone utilizado para o vidro estilhaçando na introdução, com a técnica de raspagem (estava muito escuro antes e a raspagem melhorou demais o visual geral).

Na cintura, utilizei a raspagem para deixar em branco os laços. Afinal, raspar foi muito mais fácil que cortar o screentone de maneira tão detalhada.

O cabelo foi todo feito em nanquim. Não utilizei nenhum modelo.

Primeiro fiz o desenho geral com os palitinhos no cabelo e os diversos coques. À lápis, rabisquei onde queria o brilho. Usei a pena primeiro para “contornar” a região brilhante, depois para pintar o resto do cabelo, deixando uma leve borda em branco em torno de cada coque para que os traços gerais do cabelo não se perdessem na pintura. Pensa bem, se pintar tudo de preto e os traços também são pretos, os traçøs somem! Deixar uma bordinha branca é essencial. Isso ou então você pode redesenhar os contornos com branco depois.

Amanhã e também durante o fim-de-semana devo trabalhar no Festival do Japão, então nada de blog…

Até semana que vem!

Primeiro roteiro (spoilers do Capítulo 1)

Olá!

Faz algum tempo que não atualizo o blog, mas tem um bom motivo: estou passando o começo do mangá para nanquim e o processo demoooora. Diferente do desenho do Mizutani, uma folha do mangá compreende várias imagens, as bordas que precisam de espessura específica, trechos escritos (que ainda não sei bem como fazer).

Quando acabar a estória de introdução (4 páginas), coloco todas no blog. Enquanto isso, escreverei um pouco sobre o procedimento de criar essa estória, com base no que vi em alguns livros que ensinam a fazer mangá…

No meu caso eu tive a vontade de fazer uma estória Shoujo com sereias (TEMA da minha estória). Pensei na cena dela deixando cartas no mar e que um rapaz-tritão leria as cartas e desejaria encontrar quem as escreveu. Isto os autores chamam de IDEIA, em geral os profissionais sugerem que se comece com uma estória curta, de 30 a 40 páginas (um capítulo de mangá), para ter certeza de que você será capaz de concluir seu projeto. Mas como eu gosto demais de Shoujo e de sereias, resolvi fazer uma estória longa mesmo. Eu não gosto muito de estórias curtas ou mesmo de contos, porque a minha impressão é de que não se tem tempo o suficiente para se envolver com os personagens (algo que acho importantíssimo em Shoujo Mangá!).

Para escrever o roteiro de um primeiro capítulo de uma estória longa e o roteiro de uma estória curta, algumas coisas vão divergir. Ambos precisam ter começo, meio e fim, mas obviamente o fim de um capítulo visa apenas atiçar a curiosidade do leitor. Resolvi ver meus shoujos favoritos para entender o que eles apresentam no primeiro capítulo. Em geral ocorre a apresentação do casal principal, a ambientação e a principal dificuldade para que não fiquem juntos. Não muito mais que isso. Vamos a alguns exemplos:

1) Kimi ni Todoke:  casal – Sawako e Kazehaya, ambientação – escola colegial, dificuldade – timidez e inexperiência da Sawako;

2) Lovely Complex: casal – Koizumi e Otani, ambientação – escola colegial, dificuldade – diferença de alturas;

3) Meru Puri: casal – Aili e Alan, ambientação – fantástica/mágica/escola, dificuldade – espectativas da Aili para o casamento e transformações do Alan;

4) Fruits Basket: casal – Honda e Rato/Gato, ambientação – fantástica/escola, dificuldade – quando abraçados, os Sohma tornam-se bichos do zodiaco;

5) Kurage Hime: casal – Tsukimi e Kuranosuke, ambientação – pousada, dificuldade – diferença de mundos (ela é NEET/Nerd, ele é fashion crossdresser).

Tá bom, né?Acho que deu para pegar a ideia.

No caso do “Oceano” (“Aquilo que o oceano traz” é um nome meio longo, né? Então fica abreviado assim), os personagens principais são a Ellie (ainda não sei se o nome se manterá) e o Mizutani, a ambientação é mitológica/fantástica/escola e as dificuldade é a impossibilidade do Mizutani em expressar claramente o que sente e o desinteresse de Ellie na vida adolescente.

O próximo passo foi pensar em como apresentar essas coisas e acho que esta é a tarefa mais difícil. É necessário criar situações interessantes o suficiente para que a pessoa continue lendo, ao mesmo tempo limitando a quantidade de informações para que o leitor acompanhe a evolução personagens. A minha primeira versão desse capítulo foi feita com a apresentação de todo o grupo de pessoas-peixe, mais a personagem principal, melhor amiga, representante de classe e primos… Impossível! É tentador colocar todos os personagens de uma vez, mas a estória fica confusa e a leitura fica desagradável.

A mesma pesquisa que fiz para o primeiro capítulo, eu fiz para ver quantos personagens são apresentados no início do mangá. Em muitos Shoujo, só se apresenta o casal principal (Kimi ni Todoke); em outros aparece um número maior de personagens, mas sem dar muita atenção a eles (Kurage Hime, Maid-sama, Skip Beat); em outros aparecem alguns personagens importantes, mas apenas o suficiente para que apareçam os conflitos principais (Fruits Basket, Meru Puri). Resumindo, o que me parece ser a regra é: o mínimo possível, para que consiga mostrar o conflito principal e interessar o leitor nos dois/três personagens envolvidos.

Apaguei tudo e recomecei. Limitei a quantidade de personagens para 4: Ellie, Mizutani, melhor amiga dela e puxa-saco dele. A partir disso, tentei elaborar situações para mostrar o que era necessário. Essas situações são chamadas de EPISÓDIOS pelos escritores de Mangá. Um capítulo terá vários episódios. No caso de “Oceano”, pensei em fazer o primeiro dia de aula, em que os personagens se encontram pela primeira vez com uma série de coincidências que mostram como será a interação entre eles.

Como decidi fazer um Shoujo tradicional, com uso de nomes japoneses, características da cultura japonesa na interação entre os personagens, a escola também seguiria o calendário das escolas japonesas. Como eu não conhecia nada disso, lá fui eu para a internet saber como é o primeiro dia de aula de uma colegial japonesa. Tudo ficou mais fácil, afinal o primeiro dia tem muitas coisas que acontecem (organização das turmas, escolha dos assentos, cerimônia de abertura, etc). Nem utilizei tudo, é impossível, e eu queria ficar entre 30 e 40 páginas (recomendação dos livros que vi, contudo, muitos Mangá Shoujo chegam a 60 páginas).

(SPOILER, se tem qualquer intenção de ler o mangá, pare aqui e leia apenas depois de ver todo o primeiro capítulo!) Fiz uma introdução de 4 páginas para apresentar a personagem (mostrando a relação dela com o oceano) e a ambientação (existem sereias). Começa então o primeiro capítulo. A ESTÓRIA do capítulo é o primeiro dia de aula e a primeira impressão que Ellie tem do Mizutani. Os EPISÓDIOS são: primeiro encontro dos 4 personagens e breve apresentação dos mesmos, Ellie precisa passar na coordenação e ocorre conflito entre ela e Mizutani, volta à sala de aula e descobre que senta ao lado dele(s), volta para casa e mostra seu dia-a-dia inusual, visita vizinhos, aparece que Mizutani lê as cartas de Ellie.

Esse é o resumo de como fiz o roteiro escrito do primeiro capítulo. O processo todo foi bem mais difícil que isso, com idas e vindas, muito rabisco e borracha, com entraves diversos e escolhas difíceis (às vezes, por mais que se goste de uma cena, ela simplesmente não se encaixa com o que é necessário no momento). Além disso, é muito difícil lidar com a ansiedade, com a vontade louca de apresentar todos os personagens de uma só vez, de já mostrar toda a estória em único instante. Vi e revi o roteiro escrito e gráfico algumas vezes para ver se o “ritmo” da estória estava satisfatório e, mesmo assim, tenho certeza de que pode desagradar a alguns. Bom, o espaço está aberto para críticas e sugestões. Abraços!